terça-feira, 27 de agosto de 2013

A Luta continua

Há anos atrás foi proferida essa frase, "Povo culto é povo livre".

Uma frase com sentido absoluto, nem há como não concordar mais. E particularmente é uma das minhas frases preferidas, ela inspira e faz reflectir.

Se alguém subjuga um povo, é porque este não tem a mínima noção do que vale, do que é ! O povo não conhece o inimigo, então como lutar contra algo que não se conhece ?

O problema que se vive em África,  é que lideres subjugam o povo, porque este que não sabe como se defender, e há sempre alguém que se aproveite da ignorância do outro.

Negritude (filosofia africana) e Pan-Africanismo são doutrinas que em tempos passados marcaram a nossa história, definindo o nosso destino... 

Há uns tempos, estava eu na sala de aulas, e era este o tema. Meu professor perguntou, qual o impacto que o Pan-africanismo tem em África ? que mudanças podemos ver em nossa sociedade? Um africano já domina certas áreas da ciência? Eu e meus colegas ficamos nos olhando, de certeza especulando intimamente, analisando, se em nossa geração (1990-2013), nesse espaço de tempo que vivemos, qual foi a notoriedade dessa doutrina que tinha como objectivo ''dar voz'' ao povo africano, para este reivindicar seus direitos, que diz: ''nós também pensamos e vamos à luta''. Se ainda sentimos o desejo de exaltar a voz da nossa África, se somos verdadeiramente independentes, se lutamos pela união entre os povos, se na nossa terra há amor ao próximo. Há? Há mesmo ? 

(Abro aqui um parênteses rápido, para vos perguntar o que vocês responderiam?)

Há que diga que o nosso país está a mudar, que África está a crescer e desenvolver, porque temos grandes infraestruturas, grandes estradas, shoppings, condomínios, discotecas etc..etc..

Quem está no interior, aqueles camponeses e pastores, enfim a população da área rural, não têm carro, alguns ainda vivem em casa de pau-à-pique, ou de barro, compras são feitas na praça e a única infra-estrutura que devem conhecer e se assim se possa dizer, são as formas das lindas montanhas espalhadas por nossa terra. E a situação é mais terrível por saber que muitos passam fome, muitos não sabem ler nem escrever, morrem por doenças que não sabem como tratar e pior, muito menos como prevenir, morrem por causa da ignorância? Somente? Mas no confim da minha terra, onde não há água e luz, onde parece que o tempo não passou, como se defenderá esse povo? Quem o vai defender? 

A ausência de escolas principalmente, é por falta de dinheiro para construí-las? Não! Hipótese inválida. Porque se há dinheiro para gastar com alguns pernas-de-pau que já deveriam desistir por uns tempos de jogar futebol, é porque logo, tem de haver para o povo cobrir suas necessidades ..

Outra frase que gosto é:<< Nessa terra não se vive, se sobrevive>>

A Negritude e o Pan-africanismo apareceram numa época em que os negros precisavam se libertar, sair dos corpos de meros escravos, para o corpo de intelectuais, de um povo com voz que luta pelos seus direitos, por um espaço, por querer ser respeitado, pela busca dos seus valores, por honra, por AMOR À ÁFRICA.

Sempre amei história, e história de África então, com isso ouvi e me tornei uma amante de longe de homens como Madiba, amado e querido Mandela. Sua saga emocionante, homem de garra, corajoso, humilde, grandioso, homem de amor, já não se fazem homens assim, a sua luta nunca foi individual, seu amor por África o levou a combater pela sua terra, pelo povo africano. A nossa terra sentiu o poder do pan-africanismo, e não foi o único claro, temos o exemplo de António Agostinho Neto, Kwame Nkruma, Samora Machel. Recuando ainda mais no tempo no decorrer, do longo  processo de abolição da escravatura, homens como René Maran, que lutou (com palavras) pela conservação dos valores sócio-culturais africanos. Foi tudo por amor!

África ganhou o título de ''o berço da humanidade'', e é isso mesmo, parece que ela não saiu daí, continua um bebé. Continuamos décadas e décadas atrasados em relação ao resto do mundo, porque lutamos de época em época com grandes inimigos, há séculos atrás foi a escravidão, até ao século passado a colonização, e hoje em dia, em pleno século 21 o grande inimigo é o próprio africano.

O africano ainda tem complexos, de todo o tipo, vive numa independência só diplomática porque continua ainda dependendo de povos de outros continentes para tudo, escravo da sua ignorância e ambição, e como digo sempre; ''um ignorante deslumbrado e ganancioso é uma arma fatal''. Temos recursos minerais, recursos naturais, mais falta-nos recursos humanos. 

Enquanto os outros matam-se para fazer novas descobertas, ajudar a desenvolver o mundo, a aumentar seus conhecimentos, nós estamos preocupados em encher as nossas contas bancárias,  beber a toa, falar de xuxuados, ocupados a ''fatigar'' o outro que está melhor que nós, invejar, cobiçar, fofocar, tchilar, entre outras coisas típicas, e ignoramos a sabedoria e a solidariedade. Não precisa ser génio, grande intelectual, basta você saber a diferença entre o bem e o mal e ser solidário, basta que veja o mundo além do que os seus olhos vêm, basta que você com pequenos gestos melhore o dia de alguém, basta que saiba ouvir e aprender, ser humilde, ser amigo, ser fiel e ter o mínimo de bom carácter.

Olho para uns e vejo que há muito tempo tantas dessas coisas já se perderam, se é que algum dia se fizeram presentes, é triste e lamentável. Jovens fúteis, medíocres, preocupam-se em alimentar ilusões; swag, damas/brotos, carros, discotecas, telemóveis caros nunca tornarão ninguém digno e de se respeitar num meio onde pouco importa a competitividade material mas sim a competitividade intelectual.

Estamos tão dependentes intelectualmente, tão vazios de amor, de carácter,  que qualquer dia ainda seremos colonizados novamente.

A luta pelo poder tornou-se uma das maiores armas auto-destrutivas, numa selva onde todos querem ser Rei, mal há lugar para compaixão, e assim a LUTA CONTINUA.
















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